A "JORNADA DA VIDA"
Aspectos históricos e significados em torno do Tarot.
Mais do que nunca, a partir dos tempos atuais e no futuro próximo, Ciência e Religião irão se unir em um abraço eterno. Essas duas potências vem descobrindo os grandes segredos dos Magos, e ambas nos ajudam a compreender as verdades místicas. Estas, tal como o Sol, estão acima de todas as opiniões. Destarte, entendemos aqui o “Sol” como os raios da Luz de Deus, que nunca podem ficar sem efeito, nem parar de atingir os seus propósitos. E, da tão esperada reconciliação entre a Ciência e a Religião nascerá a verdadeira Moral, que ainda não existe na Terra de um modo completo e definitivo. Algo muito belo está por vir: a Ciência, que ora está depositada nas mãos do homem, será finalmente relacionada com os dons divinos; e a Religião, proveniente exclusivamente das instruções de Deus, será também produzida a partir da razão humana.
Queremos dizer, de modo mais claro, que a Ciência sendo dom de Deus, é de Deus para os homens; e que o homem, sendo imagem e semelhança de Deus, também é templo religioso. Por isso, dizer que a Religião é razoável e a Razão é santa, faz bastante sentido.
“Religião e Ciência, enquanto contradições, podem se afirmar reciprocamente, se as considerarmos como duas afirmações fraternas.” (Eliphas Levi, séc XIX).
Alphonse Louis Constant (Eliphas Levi).
Na mesma linha de reflexão outro mago fenomenal, Papus (séc. XIX e XX), aponta para uma transformação total dos nossos métodos científicos. Com lucidez, ele percebeu que os avanços da Ciência das gerações vindouras serão fantásticos, mas faz menção ao passado, nos dizendo:
“Apesar dos progressos e da superioridade fatal das novas gerações sobre as antigas, descobrimos facilmente que as colossais civilizações do passado tiveram também uma ciência, universidades e escolas.”
Gerard Encausse (Papus).
Dentro desse contexto, avançando bastante na abstração sobre as relíquias dos Antigos, é hora de serem reapresentados alguns fatos importantes, estes que sempre estiveram presentes no cotidiano, mas ainda não foram percebidos pelas sociedades modernas. Trata-se de três princípios relacionados às Artes Mágicas! Primeiro, as sociedades secretas são continuação direta dos Mistérios. Segundo, os cultos são expressões simbólicas dos ensinamentos esotéricos para o vulgo. Por último, o da transformação das pessoas em depositárias da ciência mágica, de modo inconsciente. Isto explica o termo “Ocultismo”.
O TAROT é um instrumento estudado nas sociedades secretas, de modo velado. Já os cultos, como exemplo disso uma “missa católica”, são instruções esotéricas direcionadas para o senso comum. Resumindo, tanto uma coisa quanto a outra tem os propósitos de transformar as pessoas em depositárias discretas dos Mistérios.
Para uma melhor compreensão desses fatos, relembremos a alegoria de Thoth, a qual relatava que os conhecimentos místicos do Antigo Egito estavam se perdendo e, de algum modo, necessitavam ser perpetuados. Visto que se sabia que a era dos sacerdotes estava se extinguindo, de que maneira perpetuar tamanha Sabedoria, visto não serem encontradas pessoas dignas de receber os ensinamentos divinos? A solução foi transformar as virtudes sagradas em "vício", e assim, desse modo, transportá-las para dentro de um jogo popular – o Tarot. Todos o conhecem, poucos são os verdadeiros interessados nas suas verdades (os Iniciados), e menos ainda os que o compreendem – os Adeptos!
Arcano O Sol. Ilustração de Luciano Kravetz, baseado no design de Marselha.
Estudos contemporâneos afirmam que o Tarot é um baralho de cartas misterioso de origem desconhecida (Sallie Nichols). Os mais exacerbados afirmam ser um dos livros mais antigos do mundo, escrito por Thoth-Hermes (dito por Court de Gébelin) – e por que não seria assim? Outros especulam que a sua existência data em torno de seis séculos. Há indícios de que, “com a ruína faraônica, esse compêndio de conhecimentos supremos teria passado para os pitagóricos e os gnósticos, que por sua vez o legaram aos alquimistas” (Cousté). Talvez seja coerente atribuir a paternidade do Tarot ao gênio coletivo dos imagiers medievais (Wirth), que dotaram de bela forma os conhecimentos simbólicos, de ordem iniciática, facilmente identificados no deck de Marselha. Fato assertivo, denominador comum dessas especulações, é que o baralho do Tarot é antepassado direto das nossas cartas de jogar. Na Europa Central, certamente o local de sua maior disseminação, as cartas do Tarot tem permanecido em uso constante na cartomancia.
Observe o resumo de Alberto Cousté, no seu trabalho de compilação de dados históricos sobre o Tarot. Muito elucidativo:
1120 – Suposta data da invenção das cartas, confeccionadas a pedido de Huei-Song, imperador da China, para se distrair do ócio; o conjunto se chamava "Mil vezes dez mil" e era composto de 30 tabuinhas de marfim divididas em três séries de nove naipes. Tinha três trunfos: um deles dava nome ao baralho e os outros dois se chamavam de "A Flor Branca" e "A Flor Vermelha". Algumas das cartas se relacionavam com o Céu, outras com a Terra e algumas com o homem.
1227 – Viajantes franceses informam que as crianças italianas eram instruídas no "conhecimento das virtudes", a partir de estampas denominadas carticellas.
1240 – O sínodo de Worcester proíbe os clérigos o desonesto jogo do Rei e da Rainha.
1299 – O Tratado del governo della familia di Pipozzo di Sandro menciona a existência dos naibis, um tipo de jogo.
1332 – Alfonso XI de Castela recomenda a seus cavaleiros que se abstenham dos jogos de cartas.
1377 – O padre alemão Johannes assegura a existência de seis tipos de baralhos, sendo que um certo jogo, chamado de naipes, contempla 78 estampas (talvez seja o Tarot).
1379 – Uma crônica de Viterbo faz menção a "il gioco delle carte che in sacarino parlare si chiama nayb" (um jogo de cartas chamado naipe). Sendo que a palavra nayb, do hindu, é singular de nabab (que quer dizer vice-rei, lugar-tenente ou governador). É uma das provas que corrobora a origem oriental das cartas, introduzidas na Europa pelos comerciantes italianos.
1381 – Uma minuta do notário Laurent Aycardi, Marselha, dá conta da existência de um jogo de naipes entre os bens da herança de um dos seus clientes.
1393 – O moralista e educador italiano G. B. Morelli recomenda as estampas dos naibis como instrutivas e proveitosas para a educação das crianças.
1398 – Primeiras referências à chegada dos CIGANOS ao quadrilátero da Boêmia. Ávidos praticantes da cartomancia.
1415 ou 1430 –Numa dessas datas Filippo Maria Visconti, Duque de Milão, paga 1500 peças de ouro por um só jogo de naipes coloridos a mão. Este é o TAROT italiano mais antigo conhecido.
1546 – Guillaume Postel realizou duas viagens pelo Oriente que deram-lhe uma espécie de "conhecimento universal", onde este estabeleceu a relação entre as palavras TARO, ROTA e ATOR nas quatro letras do Tetragrammaton ou Nome de Deus.
1600 – O italiano Garzoni escreve uma minuciosa descrição do Tarot, que corresponde ao nosso atual Tarot de Marselha.
1622 –Pierre de l’Acre publica L’incredulité et mescréance du sortilège plainement convaincue…, onde se faz referência à cartomancia como “uma forma de adivinhação em que certas pessoas tomam as imagens e as colocam na presença de determinados demônios ou espíritos que convocaram, a fim de que essas imagens os informem sobre as coisas que desejam saber!”
Tarot Visconti di Modrone (1441 - 1447).
Outros recortes de pesquisas (Kielce) apontam, sim, que o Tarot, tenha aparecido na França, Itália e Alemanha no final do século XIV. Produzidos unitariamente, só as famílias da realeza poderiam adquiri-los para fins de diversão. E, com a presença dos ciganos no século XVI foi que as cartas começaram a assumir um papel adivinhatório.
De qualquer modo, os autores dos séculos XVIII e XIX tiveram o mérito de fixar definitivamente o jogo de Tarot, que é formado por 78 Cartas – distribuídas em 22 Arcanos Maiores e 56 Arcanos Menores.
Diferentes do Tarot Tradicional, existem outros oráculos de cartas, tais como o Baralho Cigano (tipos de cartas utilizadas por Madame Lenormand, 1846).
Pesquisas mais recentes (Houdouin) apontam que o Tarot pode ser revelado por sua verdadeira etimologia. O termo Tarô, na forma germânica Tarock, e Tarocchi (plural de Tarocco) na Itália carregam consigo indícios dessa possibilidade. Partindo dessas palavras, os pesquisadores propuseram como origem etimológica a palavra árabe turuq, que significa “caminho”. Em sânscrito, tari ou tara significa “a barca” ou “a travessia”, acepções que fazem referência ao rio tumultuoso da vida, cheio de redemoinhos, assim como se refere também a superação de obstáculos ou infortúnios. Taru, também do sânscrito, significa “árvore” e, na concepção do simbolismo tradicional, a árvore ou planta tem múltiplos níveis de significação, dada a compreensão simbólica das ramificações das suas raízes, galhos e folhas. Daí, talvez a adoção da tiragem das cartas do Tarot sobre as esferas cabalísticas (Sephirot), fazendo a harmonização dos mais antigos conhecimentos velados do Oriente – talvez os egípcios, junto da Tradição judaica – a Cabala. Diz-se do Tarot que é a Yoga do Ocidente!
De fato o Tarot, surgido em uma época ainda misteriosa, seja ela qual for, se encarrega de atuar nas nossas instâncias mais íntimas, fazendo uma ponte efetiva para a sabedoria primordial da humanidade. Falamos dos arquétipos do inconsciente coletivo os quais C. G. Jung fazia referência, ou seja, os grafismos primitivos e recorrentes que caracterizam a jornada da vida das pessoas.
Nas palavras de Pedro Camargo, “o Tarot não é apenas um oráculo ao qual nos dirigimos na esperança de ouvir conselhos para o nosso quotidiano. Mas, antes de tudo, é um processo de análise que permite, através da observação dos símbolos, a liberação daquilo que todos possuímos, ou seja, a intuição.”
REFERÊNCIAS
Eliphas Levi; Papus; L. Kravetz; Sallie Nichols; Alberto Cousté; Anton Kielce; Wilfried Houdoin; Pedro Camargo.