O VIAJANTE DO TAROT
O ESPÍRITO DO ÉTER
O LOUCO
A prudência é aliada da reta conduta. Conforme ensina Tomás de Kempis (séc. XV), “grande sabedoria é não ser precipitado nas ações”. Reflita, portanto, antes de tomar decisões apressadas. Sempre são bons os conselhos dos homens mais sábios e experientes.
Não praticar condutas temerárias. Ao aprender a ser mais humilde, as dificuldades da vida irão parecer menores. Por outro lado, às vezes a vida nos exige mudanças de atitudes, direcionando a vontade para novos horizontes. Hora de seguir rumo às incertezas.
Os loucos que dão certo na vida são aqueles que fazem da loucura um instrumento de mudança, não de perdição. Mudança apoiada na vocação. Uns se revelam cientistas, outros como os que se aventuram em profissões fora do comum, tais como os atores, e os que põem o pé na estrada, os que empreendem por conta própria… Mas todos esses tem algo em comum: levam muito a sério o seu ofício. A sua “loucura” é romper com os padrões tradicionais de conduta social, o que não quer dizer romper com a razão.
Einstein, racionalidade e loucura.
Tomemos como exemplo Einstein, seria ele um louco ou um mago? Como ele fazia para ser tão livre, mesmo estando dentro de um sistema tão pragmático? (Leia o Arcano O MAGO e chegue à sua própria conclusão). Por certo, uma resposta plausível encontraria apoio em uma genialidade que produz resultados práticos. Alguém além, e até mesmo fora, do seu tempo.
“Dar uma de louco” é perscrutar novos horizontes ou mudar radicalmente as rotinas do cotidiano. Este é o sentido do Arcano O LOUCO, que assinala uma partida, o abandono e um provável estado de instabilidade em todos os domínios da vida.
O LOUCO é o indivíduo que provavelmente ainda “não se realizou” e que está, portanto, condenado a sofrer as ilusões da vida. Desejos profundos ocultam-se nele. No plano físico simboliza uma viagem, separação, emigração, abandono voluntário de um local. No domínio dos sentimentos pode ser alguém que, um dia, irá revelar falta de lealdade conjugal. No plano intelectual pode apontar para alguém que está perdido, no sentido de não saber quais decisões tomar.
Na idade média os loucos eram vistos como pessoas com espírito superior. Desapegados, carregavam pouca coisa, o mínimo para atravessar a vida. Nunca procuravam por honras, nem riquezas. O importante era trilhar o caminho.
O LOUCO é o arquétipo da busca iniciática, o ato de recomeçar, a evolução em marcha. Às vezes é necessário voltar atrás e buscar as origens, para que sejam encontrados os trilhos corretos e não as bifurcações da vida que não levam a lugar nenhum.
SIMBOLOGIA DO ARCANO
A cobertura sobre a cabeça do LOUCO mostra o relevo de uma asa, símbolo de Hermes-Mercúrio, a divindade viajante que se desloca no mundo com propósitos bem definidos. A cor amarelo-ouro do seu elmo indica intuição aguçada, ou seja, confirma a certeza do destino a ser alcançado.
Os adornos da sua gola parecem sugerir a vestimenta de um bobo-da-corte, um certo ar despojado que faz referência àquele que pretende brincar com as coisas que irá encontrar no caminho. Observe os cinco pompons: quatro deles afirmam os quatro elementos, que fazem companhia para o andarilho; o quinto bibelô é a sua quintessência, ou seja, o viajante está preparado para concluir a sua jornada porque domina os elementos (entende o que estar por vir). Note que ele não carrega muita coisa, leva apenas consigo uma trouxa com itens minimamente necessários para fazer a sua mudança. Talvez ele não precise ou não tenha disponível a totalidade dos recursos os quais seriam necessários na sua vida futura. A sua autoconfiança o impele a andar leve, deixou para atrás a vida passada. Aquele tempo já era, agora é o novo!
O gato (ou cão, não se sabe ao certo) parece querer avisar o LOUCO de algum perigo, ou talvez pretenda atrasá-lo, a ponto de que desista de ir embora e permaneça no torrão natal. Faz tanta força para puxar o homem que chega a rasgar as suas vestes.
O solo é amarelo, é tal como o ouro que protagoniza o importante papel de caminho sagrado. O destino poderá ser brilhante, e essa é a melhor decisão a ser tomada – a de partir. Para trás, e no passado, ficou o solo que não dá mais produto (a vegetação sem cor); para a frente a esperança de colher bons frutos (a vegetação verde).
Os sapatos são vermelhos porque se deve ter cuidado onde pisa, a decisão de partir foi tomada, mas o terreno à frente ainda é desconhecido. Existem momentos em que novos enfrentamentos serão necessários; e é sabido que o futuro das pessoas sempre será incerto. Vale refletir que tudo o que se faz na vida é movido mais pela fé do que pelas certezas, que nunca são previsíveis.
Dorothy, tal como O Louco do Tarot, trilhando o caminho dourado com os seus sapatos vermelhos.
The Wonderful Wizard of Oz.
O LOUCO, apesar de estar com a sua mente totalmente voltada para o seu novo ideal, continua muito racional, ciente da sua decisão. Observe a conexão que ele faz com a Terra ao apoiar firmemente o seu bastão nela! Talvez esteja cansado e necessite de apoio para facilitar o seu trajeto.
COMO INTERPRETAR O LOUCO
CARTA NA POSIÇÃO NORMAL: Representa o espírito; Loucura; Insegurança; Irracionalidade; Distração; Busca da verdadeira vocação; Dar uma guinada na vida; Buscar se encontrar na vida; Viagem; Eliminar hábitos ruins; Reafirmar uma conduta; Mudança de endereço; Mudança de opinião; Indivíduo influenciável; Buscar algo; Mudança de classe social; Enfrentar a vida de frente.
CARTA INVERTIDA: Os mesmos significados da carta na posição “normal”, mas com a sua energia baixa ou em ponto de se desenvolver.
FACE SOMBRIA: Desequilíbrio total; Estar à beira de um abismo; Procurar por algo improdutivo; Andar para trás; Ser desleal; Alimentar vícios; Voltar a fazer o que não dá certo; Resgatar relacionamento ruim; Se perder na vida; Ir contra a maioria, por birra; Descer de classe social; Fugir da realidade.
PLANOS: MENTAL, ANÍMICO E FÍSICO
NO PLANO MENTAL: O Louco é potencial para qualquer coisa. Nele está contido, a um mesmo tempo, as energias do “sim” e do “não”, do possível e do impossível, dos números 1 e -1, que somados, dão origem ao ZERO do seu representativo. Espírito falível ou infalível (o Louco é despretensioso e, ao mesmo tempo, o mais perfeito criador). O Louco não possui estabilidade própria, assinalando um juízo egoísta e sem calor (mas, o contrário também é verdadeiro). Multiplicidade de preocupações ou descaso absoluto com os problemas; Ideias em curso de transformação.
NO PLANO ANÍMICO: Sentimentos ou ideias que não oferecem qualquer duração, vulgares e sem compromisso. Sensação de insegurança, dada a falta de confiança que se deposita no Louco.
NO PLANO FÍSICO: Caos, viagem, emigração, separação e abandono voluntário. Falta de ordem; Insegurança; Abandono voluntário dos bens materiais; Saúde: transtornos nervosos, inflamações e infecções.
"O BOBO" NO TAROT DE WAITE
Estar à beira do abismo não é, necessariamente, o fim da jornada. É como se os anjos estivessem de vigília para apará-lo antes de sua queda. O Bobo significa “a carne, a vida sensível” e a insensatez relacionada à existência humana. Tudo está tranquilo, o céu está azul, límpido, mas repentinamente, e por vezes sem aviso, vem uma grande mudança.
UMA PERSPECTIVA CABALÍSTICA
Na carta do “Tolo”, do Silver Witchcraft Tarot, percebemos um caminho que leva à uma formosa árvore, encimada por um eclipse.
Tal estrada é o “caminho da vida” - a própria definição do Tarot. A árvore representa, simbolicamente, a Árvore da Vida. E o eclipse remete à origem energética, pura, das esferas cabalísticas que são emanadas na Árvore. A Lua e o Sol são as variantes luminosas e sombrias que as esferas contém dentro de si.
REFERÊNCIAS
Spanish Tarot (Ed. Fournier); Arthur Edward Waite; Oswald Wirth; Hajo Banzhaf; Tomás de Kempis; Hadés; Giovanni Sciuto; Pedro Camargo; Sallie Nichols; Alberto Cousté; Robert Wang; Luciano Kravetz (textos).
BARALHOS:
O Louco (arte de Luciano Kravetz); The Fool (Silver Witchcraft Tarot, Lo Scarabeo); The Fool (RWS Tarot, 2nd edition, 1910-1920).
Mural do Alto da XV.
Artista: Poty Lazzarotto.